segunda-feira, 17 de junho de 2013

MANDELA ( E O RUGBY)

Um dia após passarem 37 anos sobre o massacre de Soweto, no qual 4 estudantes negros foram assassinados pela polícia do apartheid, é de justiça, mais uma vez, evocar um Homem com um coração enorme. 
Um coração onde abriga toda a Humanidade.
Os que o amam. Os que o odeiam. A todos acolhe e perdoa.
Falar de Nelson Mandela, é hoje angustiante, dado o seu débil estado de saúde. Já rios de tinta, de debates, de vídeos, vão correndo pelo mundo fora, celebrando a vida e a obra deste Homem único com o qual temos o privilégio de partilhar vários anos e episódios significativos e transcendentes, que mudaram uma nação e um mundo.
Um deles tem a ver com esse desporto de eleição que é o Rugby. A África do Sul ia organizar o Campeonato do Mundo de 1995. Nelson Mandela tinha sido eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, e elementos mais radicais queriam alterar os símbolos da equipa de rugby (conhecida por "Springboks"),  ou mesmo extingui-la, já que este desporto estava muito associado ao apartheid.
Nas vésperas do Mundial, foi a decisiva e firme intervenção pessoal de Mandela que o evitou.
Num país que sarava as feridas da discriminação e do ódio, Madiba (o nome pelo qual Mandela é carinhosamente conhecido - nome em dialecto xhosa da sua tribo originária-) percebeu o alcance que o Mundial poderia ter na união de todo um povo.
Desde o início que acompanhou com interesse a preparação da equipa, visitou os jogadores no estágio (tratando-os um a um pelo nome) e estabeleceu uma sólida relação de amizade com o grande capitão da equipa, o branco François Pienaar (leia-se a autobiografia deste, "Rainbow Warrior", da Waterstones). A amizade estendeu-se para fora dos relvados, uma vez que Mandela é o padrinho do filho mais velho de François.
Motivados, os jogadores sul-africanos fizeram milagres. Contra todas as expectativas, os 9ºs. classificados do ranking mundial iam disputar a final contra a super-favorita Nova Zelândia.
Mandela assistiu à final, vestido com as cores dos Springboks, e o símbolo dos mesmos (uma gazela precisamente conhecida como springbok) junto ao coração, recebendo uma longa e calorosa ovação de todos ( a grande maioria brancos!) e gritos de "Nelson, Nelson"!
E quando Joel Stransky pontapeia o drop final, já em prolongamento, é o delírio!
A África do Sul vencera a Nova Zelândia por 15-12 e era Campeã do Mundo!
Quando o presidente negro Nelson Mandela entrega a taça ao capitão branco François Pienaar, não é o estádio de Ellis Park, em Joanesburgo, que une 65.000 sul-africanos. É toda uma nação que se une. É todo um povo. São todas as raças. É a Nação do Arco-Íris. Madiba construíra um país novo.
Mandela e o Rugby tinham unido uma nação, um continente, um mundo.
O "Mundial de Mandela" mudou, também, e definitivamente a história do rugby. O Mundial, de prova quase envergonhada, transformou-se no terceiro espectáculo desportivo mais visto (só suplantado pelos Jogos Olímpicos e Mundiais de futebol), e o Rugby profissionalizou-se e implantou-se a nível planetário. Até entre nós.
  
Quem queira recordar estes momentos especiais, veja, ou reveja o belíssimo filme de Clint Eastwood "Invictus", de 2009, com Morgan Freeman (Mandela) e Matt Damon (Pienaar), baseado no livro de John Carlin "Playing The Enemy : Nelson Mandela and the game that made a Nation".
"Invictus" é também o título de um poema, que acompanhou Nelson Mandela durante os 27 infames anos de cativeiro, particularmente no inferno de Robben Island.

"Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.




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