segunda-feira, 29 de junho de 2015

FEIOS, PORCOS E MAUS!

 


Se alguém tinha dúvidas sobre a bondade de uma Europa coesa, solidária, integrante, como desejado pelos Fundadores que, a 1 de Julho de 1967 assinaram o Tratado de Roma, desengane-se.
Com os episódios quase pornográficos a que se assistiu nos últimos dias, relativamente à "negociação" da dívida grega, ficou claramente explícito o que quer esta Europa e como o pretende alcançar.
Para este bando de burocratas, ignorantes da História, chamem-se Dijsselbloem, Juncker, Tusk ou Draghi, a democracia é apenas formal, a soberania de cada estado é limitada e, aquando das eleições, apenas podem ser eleitos os que respeitem o diktat: liberalização total, desregulamentação máxima, transferência brutal dos recursos do trabalho para o capital, precarização do mundo laboral, eliminação do estado social e rédea livre para a gula dos privados e da excessiva balança comercial da Alemanha (ai aqui não há regras?).
Quem ousar pôr em causa estes dogmas deve ser punido e humilhado. Não há lugar à alternativa.
É isso que nos ensina a crise grega.
O problema não é o défice, não é o saldo primário, não é a dívida.
A questão é política!
A Grécia, no fundo, pôs a nu esta construção "europeia" ao arrepio dos tratados fundadores, e cimentada em torno do Tratado de Maastricht, do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental e do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, verdadeiros garrotes da democracia e da liberdade de escolha dos cidadãos europeus.
Assim, só há que castigar a Grécia, ovelha negra do plácido rebanho,. ainda mais plácido quando a social-democracia, o trabalhismo e o chamado socialismo democrático se renderam, deixando cair em mãos duvidosas (olá Frente Nacional...) as bandeiras da justiça social, do progresso, dos direitos laborais, da coesão e da solidariedade.
E como já não seria bonito bombardear Atenas por panzers ou stukas, asfixia-se o país económica e financeiramente, pensando-se que a eventual saída da Grécia do euro seria o extirpar de um tumor, sem mais consequências, como o demonstra a incompetente, desastrada e irresponsável forma como o Governo de Portugal (o país que se seguiria..) lida com o assunto.
Pura asneira! Desde a total descredibilização do euro, com reflexos profundos na economia europeia, até ao efeito de contágio, toda a Europa perderia. E muito, nestes tempos de economia global e planetária.
Mas será que, para meter todos estes acéfalos na ordem, será preciso Obama desembarcar na Normandia e Putin cercar Berlim?

(Leonard Cohen - "First We Take Manhattan")

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