sábado, 1 de novembro de 2014

POESIA COM AÇÚCAR BRASILEIRO


Nasceu a 31 de Outubro de 1902.
E passada a euforia haloweenística, sabe bem voltar à poesia, à poesia em Português.
A milhares de quilómetros, separado pelo Atlântico, o Português açucarado no Brasil, pela voz de um dos maiores poetas deste Língua de dispensa "acordos" ignorantes:
Carlos Drummond de Andrade.

"Viver

Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?

E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?

O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?

Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança? " (do livro "As Impurezas do Branco")

 
"Igual-Desigual
Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
                                                                                 [coisa.

Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar. " (do livro "A Paixão Medida")


 

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