quarta-feira, 13 de maio de 2015

"ABORTO" ORTOGRÁFICO? NUNCA, OBRIGADO!

 
Não se sabe bem se é milagre de Fátima, ou pelo contrário, mas o facto é que, segundo rezam as crónicas deste pachorrento país à beira-mar plantado, a partir de hoje será obrigatório seguir a norma contida no Acordo Ortográfico de 1990.
Por acaso, Portugal é, nesta data, o único país da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (que inclui a lusofoníssima Guiné Equatorial....) que o vai aplicar.
Quanto a "Acordo", estamos conversados...
No que ao fundo da questão diz respeito, julgo que não passa pela cabeça de ninguém com bom senso que uma língua materna, seja qual for, se mude por decreto.
Uma língua evolui graças a quem a fala e a quem a escreve.
Acaso existe problema em ler o português brasileiro de Jorge Amado, o português angolano de Luandino Vieira, o português moçambicano de Mia Couto, o português português de Eça de Queirós?
Não se está a valorizar a língua, muito pelo contrário, está-se a rebaixá-la, a manietá-la, a cercear-lhe a criatividade, a beleza, a cortar a possibilidade de a moldar, de a cinzelar, de a lapidar como jóia que é.
"A minha pátria é a língua portuguesa", como escreveu Pessoa, é a língua de luz, de música, de cor, de mar, adaptável nas praias onde desagua, burilada pelos falantes e pelos criadores que a trabalham.
Aqui, no Brasil, em África, em Timor.
Não por decreto, mas pela vida vivida.
E falada.
E escrita.
Por aqui, nunca entrará o dito "Acordo" nem a "língua" entaramelada que quer impor.
Mas sim, e sempre, a Língua Portuguesa.
Incluindo o "português com açúcar", como Eça designava, brilhantemente, o português do Brasil.
 
("Língua" - Caetano Veloso)
   

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