quinta-feira, 28 de maio de 2015

28 DE MAIO

 
A 28 de Maio de 1926, um golpe de estado militar punha fim, violentamente, à I República, instaurada a 5 de Outubro de 1910.
República que, com todos os defeitos e contradições, tinha lançado as bases para uma melhor educação, melhor saúde, mais direitos para os trabalhadores, incluindo os de protecção social não caritativa ou assistencialista, separação entre a Igreja e o Estado, começo do respeito pelos direitos das mulheres, etc. E, acima de tudo, a instauração das liberdades de expressão e associação, de entre a instauração, constitucionalmente garantida, das liberdades básicas e universais.
Para lá de, repete-se, todos os erros cometidos ou contradições insanáveis.    
Com o 28 de Maio, estabelece-se a ditadura, o modelo social repressivo, copiado do fascismo italiano de Mussolini, o fim das liberdades, a censura, a extinção dos partidos, a governamentalização dos sindicatos, a repressão policial, a prisão e assassinato de adversários políticos.
É o triunfo da grande burguesia, especialmente da grande burguesia rural, católica e retrógrada, e dos grandes industriais que surgiam numa indústria ainda incipiente.
Iniciou-se um ciclo de retrocesso civilizacional e económico, de que ainda hoje se sentem múltiplas repercussões.
E, como desculpa, o controlo orçamental...
Pois....
Só que neste século XXI, nesta Europa do euro, já não são precisos golpes de estado violentos p+ara domesticar os povos.
Basta um simulacro de democracia, quanto baste, e deixar que o mercados funcionem e manipulem os cidadãos.
É fácil.
Basta acenar com "privilégios injustificados", "viver acima das suas possibilidades", "temos de empobrecer", "não sejamos piegas"...
Assim, despedem-se trabalhadores "excedentários", forçam-se a emigrar quadros qualificados cujas habilitações "não servem as empresas", cortam-se prestações sociais, reduzem-se os orçamentos da Saúde e Educação, eliminam-se gastos "supérfluos" com  Ciência,. a Inovação, a Investigação, e vendem-se empresas a esmo, tirando o diabolizado Estado de tudo quanto mexa.
E, com a ameaça de cortar, ou não, salários, pensões, estabilidade no trabalho, provocam-se os sentimentos mais básicos das pessoas, como a própria sobrevivência, dependente da sobrevivência do emprego, do salário, seja este qual for, desde que exista. Com "comunicadores" que, vendendo-se por um prato de lentilhas, matraqueiam nas rádios, televisões e jornais, a narrativa única do poder.
E fomenta-se a desvalorização do trabalho, transferindo-se, assim, milhões e milhões de euros para o capital.
E se alguém, ou um país, ousarem erguer a voz, metem-se na ordem, amedrontam-se, acenam-se com mais despedimentos, mais cortes, menos regalias, a bancarrota, a falência total e irreversível.
E o medo é tão basicamente humano...

("Perfilados de Medo" - José Mário Branco, poema de Alexandre O'Neill)
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário