quinta-feira, 17 de julho de 2014

POESIA EM PORTUGUÊS

 

Nasceu em Coimbra a 17 de Julho, já lá vão 95 anos, e aí licenciou-se em Histórico-Filosóficas.
Foi um dos grandes nomes que ajudaram a crescer, e a divulgar, o movimento neo-realista em Portugal.
Talvez o seu nome não seja tão conhecido como outros companheiros de jornada, como Carlos de Oliveira, Joaquim Namorado, ou Mário Dionísio.
Mas o seu contributo, e a sua qualidade foram decisivos para marcar toda uma época e toda uma estética, bastando referir que foi um dos responsáveis pelo surgimento do "Novo Cancioneiro" que, nos idos de 40 agitou os meios culturais portugueses, erguendo das raízes o neo-realismo.
Integrante do chamado "Grupo de Coimbra", muitas das polémicas dadas à estampa em revistas, muitos poemas, muitas posições estéticas e políticas nasceram nas tertúlias reunidas na sua casa na Rua do Loureiro, onde hoje está a Casa da Escrita, em Coimbra.
A sua colecção de Obras Completas, em três volumes, encontra-se publicada pela Editorial Caminho, cuja leitura se recomenda.
Por fim, e nesta apresentação breve, é fulcral referir que João José Cochofel foi, com Carlos de Oliveira, Joaquim Namorado, Papiniano Carlos e outros, um dos grandes poetas que escreveram textos que Fernando Lopes-Graça musicou naquela compilação que passou à História como "Canções Heróicas".
E muitos desses poemas estão, dolorosamente, extremamente actuais.
Fiquem com a poesia de João José Cochofel, e descubram-no!

Sem frases de desânimo,
nem complicações de alma,
que o teu corpo agora fale,
presente e seguro do que vale.
Pedra em que a vida se alicerça,
argamassa e nervo,
pega-lhe como um senhor
e nunca como um servo.
Não seja o travor das lágrimas
capaz de embargar-te a voz;
que a boca a sorrir não mate
nos lábios o brado de combate.
Olha que a vida nos acena
para além da luta.
Canta os sonhos com que esperas,
que o espelho da vida nos escuta.
("Firmeza" - Canção Heróica)
 
("Ronda")
 
(Ronda")
Amor, já se aproxima a hora
de darmos as mãos e dançar.
A ronda que começa agora,
eia agora!
é para nela se bailar.
Mas precisamos ir primeiro
por uma madrugada fria,
fazer dos anseios bandeira,
na dor temperar a alegria.
Amor, já se aproxima a hora
de darmos as mãos e dançar.
Na ronda que começa agora,
eia agora!
havemos todos de entrar.
Se a vida vã que nos uniu
à morte assim nos entregasse,
seria uma noite mais noite
que a esta noite nos poupasse.
Amor, já se aproxima a hora
de darmos as mãos e dançar.
A ronda que começa agora,
 eia agora!
não mais voltará a parar.
E o novo dia se levanta
vadiando da rua ao telhado.
–Amor, estende a tua manta,
vamos dormir sobre o passado.

 
 
 


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