sábado, 19 de julho de 2014

POBREZINHOS MAS HONESTOS



E ao não sei quantos dias, João César das Neves pregou:
“É criminoso subir o salário mínimo”
Claro que é!
César é cristão, é católico.
Praticante. 
Para esta gente que bate com a mão no peito,
Que não sabe o que quer dizer "Católico",
Ou conhece Cristo,
Sequer Francisco,
Ser pobrezinho é que é bom,
Corta nos salários, aumenta os lucros, diminui os custos.
Também corta a qualidade, aumenta a precaridade, diminui o gosto de viver.
Mas viver a vida é pecado,
É viver acima das possibilidades,
É engordar o estado social,
É não haver lugar à caridadezinha, ao assistencialismo,
Ao gosto voyeurista e sádico de deixar mola numa mão estendida, mas honesta, claro,
À volúpia de enganar a fome com migalhas,
Tão IsabelJonetista...
Ser pobre é dar lucro às empresas,
É engordar empresários ávidos e analfabetos,
É percorrer o caminho da expiação,
Aprender a lição, como diria Cavaco,
Cumprir o ajustamento, como diriam os colaboracionistas,
Como ele César, ou Camilo Lourenço, ou Gomes Ferreira,
Entre outros.
Criminoso é manter salários de pobreza,
Alimentar o desemprego, a emigração,
A desqualificação, a extinção da saúde, da educação, da investigação.
Criminoso é estrangular um país, fechar-lhe as portas da esperança,
Cadinho de todas as ditaduras, brutalidades e desumanidades.
Mas César é cristão. E católico!
Como os vendilhões do templo.
Como os que pregaram Cristo na cruz,
E lhe espetaram uma lança, estás é mal enterrado.
César é cristão e católico,
Que rasga e pisa os Evangelhos e os Bem-Aventurados.
Isso, sim, é criminoso!


("Cálice", de Chico Buarque, com Milton Nascimento)

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