terça-feira, 15 de julho de 2014

INDEPENDENCE DAY - NOVA IORQUE

 
Há dias, mais precisamente a 4 de Julho, os Estados Unidos comemoraram o seu Dia da Independência.
Pois vamos falar um pouco sobre o lado de lá do Atlântico, mais concretamente sobre uma das mais fascinantes cidades do Mundo : Nova Iorque.
E para abordá-la, vamos sair do aeroporto até Brooklin e, aí, atravessar a pé a mítica e histórica Brooklin Bridge, inaugurada em 1883, que atravessa o East River e que, calcorreada com calma, admirando a paisagem em frente, nos faz sonhar...
("Just over The Brooklin Bridge" - Art Garfunkel)

Chegados à outra margem, estamos em Manhattan, um dos 5 "boroughs" (ou distritos, para simplificar), que compõem Nova Iorque: Manhattan, Brooklin, Bronx, Queens e Staten Island.
Perto do local onde deixámos a ponte, encontra-se o edifício da Câmara Municipal, que pode ser visitado, desde que haja marcação prévia.
Percorrer Nova Iorque é extremamente simples: para Norte, Uptown, para Sul, Downtown, adoptando a localização do Central Park como referência. As avenidas foram desenhadas na vertical, as ruas na horizontal (West e East, ainda tendo como referência o Park). É quase impossível alguém perder-se nessa malha ortogonal. A excepção é a Broadway, que atravessa a cidade na diagonal, e desde 1811.
A rede de metro é eficiente, assim como a dos autocarros e, atendendo ao actual valor do euro, as viagens de táxi, para grupos de 2/4 pessoas é aconselhável e barato.
Voltando à Câmara Municipal, podemos ir "downtown", pela Broadway, passando pelo memorial do 11 de Setembro e pelo novo arranha-céus entretanto construído, metendo o nariz em Wall Street, que recorda o local onde, em 1652, os holandeses construíram um muro de lama e madeira para impedir fugas de escravos. Wall Street, hoje, invoca outro tipo de escravatura e outros senhores...
A poucos metros, temos a Trinity Church que, além de um cemitério datado desde o século XVII, abriga recordações vivas e vividas da tragédia de 11 de Setembro.
No fim da avenida, pode-se apreciar o Battery Park, datado do século XIX, onde se situa o Forte Clinton (sem sala oval...) do mesmo século, admirando-se, ainda, uma esfera metálica, antes situada entre as Torres Gémeas, e que é testemunha física do que lhe desabou em cima.
 
(A esfera no Battery Park)

Do Battery Park saem os ferries que, além do mais, asseguram as ligações à Estátua da Liberdade e a Ellis Island, onde se situa o Museu da Emigração.
E, já agora, porque não um pequeno cruzeiro pelo Hudson ou pelo East River? 
Deixando o Battery, vamos Uptown e East, percorrendo Canal Street, onde se contempla um incrível mercado ao ar livre, e no qual se podem adquirir frutas, vegetais, mariscos, peixes, ou não estivessemos no coração de ChinaTown, bairro que merece ser calcorreado, mas com atenção aos restaurantes, que não se aconselham.
Mas não se perde pela demora. "Entalada" em ChinaTown, está Little Italy, que já teve uma dimensão maior, mas que hoje se confina aos três quarteirões que ladeiam Mulberry Street, e parece aproximar-se da extinção. Aproveitar a oferta de restauração e, porque não, naquela rua tão italiana, imaginar Don Corleone ("O Padrinho") aos tiros. Ou seria Marlon Brando?
Se, agora, nos dirigirmos para ocidente (Go West...), vamos encontrar alguns bairros que nos fazem lembrar algumas zonas de Londres (como Soho, que apenas quer dizer SOuth of HOuston street), calmas, habitacionais, como são Tribeca (TRIangle BElow CAnal street), o referido Soho e Greenwich Village,  este último local privilegiado das comunidades gays e lésbicas, e onde as estátuas da Christopher Square evocam, também, para além da tolerância cívica, os incidentes de 1969 no bar Stonewall Inn,  quando a polícia espancou manifestantes que lutavam pelos direitos civis dessa comunidade, direitos iguaizinhos aos nossos. Ali não há preconceitos e respira-se uma atmosfera carregada de liberdade. E cultura.
Os três bairros foram, nos anos 50/60, residência de pintores, escultores, músicos, cantores, actores, realizadores (a norte fica a Union Square, onde esteve The Factory, o estúdio de Andy Warhol e dos seus discípulos), tendo, depois, caído na degradação e quase votados ao abandono.
No entanto, foram revitalizados, recuperados, e são hoje, mantendo as suas identidades físicas e ambientais, residência de uma jovem classe média, maioritariamente de profissões liberais, dinâmica e culta. Bons restaurantes, galerias de arte, livrarias, óptimas lojas de música, onde se podem adquirir verdadeiras raridades em CD ou...vinil. O espírito de Nova Iorque.


 
("Empire State of Mind" - Alicia Keys)

Deixando para trás estes odores, sabores e panoramas, vamos Uptown, seguindo a famosa 5ª. Avenida, passando pelo Madison Square Garden, paredes meias com o mundialmente famoso pavilhão com o mesmo nome, casa da equipa de basquetebol do New York Knicks, e pelo Flatiron Building, assim chamado por se assemelhar a um gigantesco ferro de engomar. Foi um dos primeiros arranha-céus da cidade.
Na 5ª., tempo para visitar um dos templos da cultura, a livraria Barnes & Noble. Desde os últimos êxitos, até velhos alfarrábios, literatura técnica, de tudo há na Barnes. E, vantagem não desprezível, envio ao domicílio, para qualquer parte do mundo, sem falhas e com rigor.
E, pouco depois, estamos frente dele. O símbolo por excelência de Nova Iorque, o mítico Empire State Building, que um gorila chamado King Kong, transfigurado de Prometeu, subiu até ao topo da imortalidade.
Andando mais um pouco, chegamos ao elegante Bryant Park. Indo à direita, pela Rua 42 East, chegamos a outro dos ícones da "Big Apple", uma estação de comboios que dá pelo nome de Grand Central Terminal, e que é um esplendor arquitectónico.Por ali também se filmaram cenas de Hitchcock ("Intriga Internacional"), de Terry Gilliam ("Fisher King"), viram-se Will Smith e Tommy Lee Jones ("Men In Black") e, até, desenhos animados da DreamWorks ("Madagáscar"). Estamos perante mais do que uma vulgar estação. É um monumento vivo.
Galgando mais um pouco a Avenida, chegamos ao complexo do Rockefeller Center, ao qual pertence um dos maiores auditórios de música em todo o mundo, o Radio City Music Hall. Sob a estátua de Prometeu, abre-se um vasto recinto de esplanadas (no Verão), onde o preço não se pode considerar exagearado, transformado em rinque de patinagem no Inverno, e que acolhe, na época própria, uma das maiores e mais bem iluminadas árvores de Natal do Mundo. De destacar que a decoração interior do espaço, acessível a visitas com marcação, foi da responsabilidade do grande pintor e escultor mexicano Diego de Rivera. Uma estátua de Atlas, pertencente ao complexo, está alinhada com a Catedral de São Patrício, no passeio em frente, de estilo neogótico. Mas aqui, francamente, parecem faltar 700 anos de História, que nunca será capaz de ter.
Voltemos um pouco para trás, no passeio por onde viemos, passe-se  o Bryant Park, agora na Rua 42 Oeste, e desembocamos no Centro do Mundo: Times Square, uma praça pequena, mas repleta de lojas, pessoas, táxis, cores, sons, lojas, os principais teatros ao redor da Broadway, e mais pessoas, e mais cores, todas as línguas do mundo, praça viva e cheia de vida, onde a beleza não está na arquitectura, mas em cada e todas as "desvairadas  gentes" de todas as partes e continentes. E a loja de chocolates "Hershey´s", claro. E, ao jantar, na Rua 49, Oeste, "The Playwright". E mais, e mais. O mundo na palma da mão. Um dos locais mais espectaculares que nos é dado apreciar e gozar.
 
Se houvesse dúvidas, estamos, de facto, em Nova Iorque.
("New York, New York" - Frank Sinatra) 

E se ainda tivermos forças, depois de exauridos em Times Square, continue a subir-se a Avenida e, cuidado, que para tal é preciso tempo, atenção, concentração. No 11 da Rua 53 Oeste, está uma das grandes apostas culturais da cidade: o Museum Of Modern Art, o M.O.M.A. A ver, especialmente para os interessados na arte dos séculos XX e XXI: pintura, escultura, desenho, fotografia, arquitectura, design, filme, performance, novas tecnologias aplicadas à expressão artística.
Quase no fim da Avenida, pouco antes de se atingir o Central Park, temos, na esquina da Rua 57, Este, a famosa joalharia Tiffany's, a cuja porta Audrey Hepburn ia tomar o pequeno-almoço ("Breakfast at Tiffany's", filme de 1961, de Blake Edwards), e onde as peças não têm preços à vista. No lado Oeste da mesma rua, na esquina com a 7ª. Avenida, aprecia-se o edifício da mítica sala de espectáculos Carnegie Hall, que já viu Leonard Bernstein e Mariza.
Na esquina em frente, no pub de artistas "P.J. Carney's" saboreia-se uma inesquecível Shepherd's Pie e viram-se bejecas de todas as marcas imagináveis.
E chegamos ao Park.
Desde já, para quem aprecia museus, recomendam-se vivamente dois, situados em cada um dos lados do parque: do lado Este, o Metropolitan Museum of Art, excelente acervo de obras que abrangem séculos que vão do Antigo Egipto, a Andy Warhol e Jackson Pollock. Particular atenção à extensa colecção de quadros de Van Gogh. Um pouco acima, do lado direito da 5ª. Avenida, está o Museu Guggenheim, que alberga a colecção de Solomon Guggenheim mas que, para além do mais, se destaca pela disposição das obras como se estivessemos a descer uma escada em caracol, e a arquitectura original do edifício, da autoria do célebre arquitecto Frank Lloyd Wright.
(Museu Guggenheim)

Do lado Oeste temos o Museu de História Natural, merecendo destaque o acervo museológico sobre os nativos americanos, vulgarmente conhecidos por índios.
E, num parque, porque não almoçar uma refeição tipicamente americana e novaiorquina? Muito simplesmente um Hot Dog (cachorro quente) comprado a um vendedor ambulante, dos muitos que existem na cidade. Obrigatório. E higiene assegurada.
O Park deve ser percorrido devagar, em jeito de calma passeata, admirando as alamedas, estátuas, jardins, lagos, até o Zoo, para quem apreciar, e que foi retratado no filme "Madagáscar", já que aí residiam as personagens principais da história, e o Delacorte Theatre onde, "à borla" se podem admirar peças de Shakespeare (vd. as personagens de diversas das suas peças em estátuas alusivas), enquadrado pelo castelo Belvedere. Para além disto, o teatro também oferece todo o tipo de repertório, incluindo musicais, que não são exclusivo dos teatros da Broadway.
Por razões sentimentais, recomenda-se "peregrinação" aos Strawberry Fields, zona ajardinada junto à Rua 72, Oeste, que homenageia John Lennon, e segundo projecto da Câmara Municipal e de Yoko Ono, viúva do ex-Beatle, que ainda reside no edifício fronteiro ao parque, o Dakota Apartments, à porta do qual John foi assassinado. O jardim recebeu espécies vegetais de mais de 100 países, incluindo Portugal. 
Local próprio para recordar, meditar e ouvir música dos Beatles, interpretada por alguns dos inúmeros músicos amadores que calcorreiam o Park. Sugere-se que sejam escutados muitos deles, interpretando rock, folk, baldas e, claro, muito jazz.
(Mosaico "Imagine", do título da canção homónima de Lennon, no Strawberry Fields, em estilo da Calçada Portuguesa)

E já que estamos falando de música, um pouco abaixo da rua do Dakota, e para o lado Oeste, entre as 62ª e 66ª, e encostado à Broadway, encontramos o Lincoln Center for the Performing Arts, ou apenas Lincoln Center, um dos mais extraordinários centros culturais do Mundo, inaugurado em 1962. Alberga, entre outras, a Metropolitan Opera House, o New York City Ballet, a Orquestra Sinfónica de Nova Iorque e a Julliard School, onde se ministram cursos de dança, música, coreografia, representação (que a velha série televisiva "Fame" terá tentado homenagear).
O equilíbrio das formas, a valia arquitectónica do local merecem demorada visita e, se possível, o milagre de arranjar bilhetes para qualquer espectáculo. Por exemplo, a versão novaiorquina de "Romeu e Julieta", não a disputa entre Capuletos e Montecchios, mas entre os grupos de adolescentes Jets, anglo-saxónicos e Sharks, hispânicos, e que ainda hoje enche salas, com coreografia de Jerome Robbins e música de Leonard Bernstein, e que passou para a posteridade com o título de "West Side Story".

("West Side Story" - Prólogo)

Voltando ao Central Park, a caminhada leva-nos mais para Norte, passando pelo lago maior, denominado Jacqueline Kennedy Onassis Reservoir, e chega-se à saída contornando outro lago, o Harlem Meer.
Deixamos à esquerda a Universidade de Columbia e estamos à beira do Harlem, e o contraste com a cidade "branca" é visível. O estigma do racismo ainda não desapareceu, apesar dos progressos realizados em Nova Iorque. 
Aos que apreciem a música gospel, sugere-se, um domingo pela manhã, cedo (8/8.30), a presença, engrossando a bicha, junto aos números 140/148 da Rua 137 Oeste, onde se situa a African Methodist Episcopal Zion Church. Convém, de facto, madrugar, já que são mais os turistas que os fiéis. Mas não é preciso entrar em pânico, já que virando a esquina, na Rua 136, está situado outro templo onde, sem empurrões, se podem ouvir coro e solistas de qualidade. Às vezes, nem tudo o que vem nos guias turísticos é de seguir à letra...
E, já que estamos no Harlem, porque não dedicar uma noite à música que Nova Iorque acolheu como sua e divulgou pelo Mundo? Jazz claro, e arriscar uma mesa nos míticos Apollo Theatre ou Cotton Club, renascidos e renovados. Lembrar Charlie Parker, Duke Ellington, Bessie Smith, Charlie Haden , Billie Holliday, Miles Davis ou Charlie Parker, o "Bird" do exemplar filme homónimo de Clint Eastwood.
E por falar em filmes, e em jazz, recorda-se uma das grandes obras sobre Nova Iorque, um dos melhores filmes de sempre, e a impressiva banda sonora, a ultima da grande carreira de Bernard Herrmann.
(Tema de "Taxi Driver" - soa a Nova Iorque)

O texto já vai longo, mas o 4 de Julho deu o pretexto para falar sobre esta cidade mágica e, se possível, aguçar o apetite para uma visita que, e é uma opinião pessoal, se torna obrigatória. Não mergulhar nesta metrópole fascinante é pecado capital. Pelo menos uma vez antes de se viajar sabe-se lá para onde...
Na internet, a busca é fácil, podendo consultar-se, entre outros:
www.newyorkpass.com/, www.nyc-arts.org/, www.nycgo.com, www.timeout.com/newyork/attractions-days-out/new-york-attractions, www.nycgo.com/must-see-nyc/   
Para o viajante curioso, que privilegia as gentes à pedra, deixa-se a eterna dica de que, apesar de tudo, não será de seguir tudo aquilo que guias e sites nos querem vender, O instinto explorador sabe sempre orientar-nos.
Deixamos Nova Iorque, por agora.
Para despedida, um chamado postal de viagens que alia a visão sobre a cidade deixada pelo génio de Woody Allen, no filme "Manhattan" de 1979, à música que, também como opinião pessoal, é o verdadeiro hino e o vivido e colorido som de Nova Iorque: "Rhapsody in Blue" do génio George Gershwin.

 

 
 

          

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