Eça de Queirós, o nosso eterno Eça, nasceu a 25 de Novembro de 1845 na Póvoa de Varzim.
Um dos maiores nomes da literatura, quer a nível nacional quer mundial, revolucionou a escrita, colocou a nu os podres da sociedade da sua época, com uma ironia fina e um discurso inovador e que prende, inexoravelmente quem o lê.
Da sua época?
De sempre, como se pode ler, tão actual que parece que escreveu este trecho nos dias de chumbo por que passamos:
"Logo que na ordem económica não haja um
balanço exacto de forças, de produção, de salários, de trabalhos, de
benefícios, de impostos, haverá uma aristocracia financeira, que cresce,
reluz, engorda, incha, e ao mesmo tempo uma democracia de produtores
que emagrece, definha e dissipa-se nos proletariados." "Prosas Bárbaras"
"Nós estamos num estado
comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade
política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública,
mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração
grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas
revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua
decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao
par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma
história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de
modelo universal e o museu humano da beleza da arte." -"Farpas"
"Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura." - "Correspondência"
"O juízo que de Badajoz para cá se faz de Portugal não nos é favorável... Não falo aqui de Portugal, como estado político. Sob esse aspecto, gozamos uma razoável veneração. Com efeito nós não trazemos à Europa complicações importunas; mantemos dentro da fronteira uma ordem suficiente; a nossa administração é correctamente liberal; satisfazemos com honra os nossos compromissos financeiros. Somos o que se pode dizer um «povo de bem»... A Europa reconhece isto; e todavia olha para nós com um desdém manifesto. Porquê? Porque nos considera uma nação de medíocres, digamos francamente a dura palavra, porque nos considera uma «nação de estúpidos»." - "Notas Contemporâneas"
De facto, os génios são intemporais...
Ao contrário dos "pequenos deuses caseiros" que julgam que mandam alguma coisa...
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