Nasceu em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1855, e ali viria a falecer a 19de Julho de 1886, no Lumiar, vítima de tuberculose.
A sua obra poética só veio a público em 1901, graças ao amigo Silva Pinto, que conhecera ao frequentar o Curso Superior de Letras, e que edita "O Livro de Cesário Verde".
Poeta do campo e da cidade, Cesário recusa o lirismo tradicional, trata o campo como algo concreto, palpável, vivo, a cidade com as suas ruas "macadamizadas", os quintais vazios, as casas apalaçadas, edifícios sujos, retrata calceteiros, padeiros, varinas, vendedeiras, trabalhadoras, burguesinhas, fúteis, para além do realismo e, até, do impressionismo, anunciando a poesia do século XX, que não dispensa o retrato social e a intervenção crítica.
"Vaidosa
Dizem que tu és pura como um
lírio
E mais fria e insensível que o
granito,
E que eu que passo aí por
favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo
e sério,
Que és muito desdenhosa e
presumida,
E que o maior prazer da tua
vida,
Seria acompanhar-me ao
cemitério.
Chamam-te a bela imperatriz
das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde
alabastrino,
E não tens coração como as
estátuas.
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem
defeito,
E julgam que é monótono o teu
peito
Como o bater cadente dum
relógio.
Porém eu sei que tu, que como
um ópio
Me matas, me desvairas e
adormeces,
És tão loira e doirada como as
messes,
E possuis muito amor... muito amor próprio." ("O Livro de Cesário Verde")
O seu poema mais conhecido será, possivelmente, "De Tarde". E como não ligá-lo, por exemplo, aos movimentos estéticos que surgiam na Europa, aqui retratados na obra-prima de Edouard Manet, "Le Déjeuner sur L'Herbe", ilustração para o citado poema, de um poeta que merece ser lido.
("Le Déjeuner sur L'Herbe")
"De Tarde
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente
bela,
E que, sem ter história nem
grandezas,
Em todo o caso dava uma
aguarela.
Foi quando tu, descendo do
burrico,
Foste colher, sem imposturas
tolas,
A um granzoal azul de
grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns
penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se
via;
E houve talhadas de melão,
damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da
renda
Dos teus dois seios como duas
rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!" ("O Livro de Cesário Verde")
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