Ontem, 7 de Abril, passaram 120 anos sobre o nascimento de um dos grandes vultos da Cultura portuguesa de sempre : José de Almada Negreiros,
Figura ímpar, quer nas artes plásticas (desenho, pintura), quer na escrita (romance, poesia, ensaio, dramaturgia), quer, até, na dança (foi coreógrafo, figurinista, director de cena e bailarino), Almada marcou fulgurantemente os anos de 1911 a 1970.
Ligado ao movimento futurista, de Marinetti (que influenciaria a arte italiana dos tempos de Mussolini), com Santa Rita (pintor) e Amadeo de Souza Cardoso, o percurso de Almada foi muito pessoal, autodidacta, e pouco ligado a movimentos colectivos. Embora colaborando com o Estado Novo (cartazes de propaganda, vitrais para o pavilhão da colonização da Exposição do Mundo Português), foi-se progressivamente afastando dessa tutela, nunca aceitando que o estado ditasse os padrões a que a arte se devia submeter.
Desde a sua colaboração na Revista Orfeu, que motivou feroz ataque do tradicionalista Júlio Dantas, o que nos permitiu saborear o Manifesto Anti Dantas, ao romance como "Nome de Guerra" ou a prosa poética "Invenção do Dia Claro", ou até à sua última obra, o desenho inciso "Começar", no átrio de entrada da Fundação Gulbenkian (1968/69), Almada convida-nos à contemplação, admiração, leitura, reflexão, e sentimo-nos, depois, esmagados.
Num breve percurso por Lisboa, podemos, entre outras obras, admirar os seus murais nas Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha de Conde de Óbidos, os vitrais na sede do Diário de Notícias (Avenida da Liberdade), os painéis decorativos nas Faculdades de Letras e de Direito e os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima (à Avenida de Berna).
Por fim, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, podemos admirar o seu quadro Retrato de Fernando Pessoa, de 1964 (existe outro Retrato, de 1954, pintado para o café Irmãos Unidos, vendido em 1970 por preço record).
José Augusto França dele disse que fica sobretudo a imagem de "português sem mestre" e, também, tragicamente, "sem discípulos"-
Morreu a 15/06/70, no Hospital de São Luís dos Franceses, ao Bairro Alto, no mesmo quarto onde faleceu Fernando Pessoa.
Manifesto Anti-Dantas (e por extenso), pelo grande actor e declamador Mário Viegas:
"Retrato de Fernando Pessoa", 1954
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