Um dia após passarem 37 anos sobre o massacre de Soweto, no qual 4 estudantes negros foram assassinados pela polícia do apartheid, é de justiça, mais uma vez, evocar um Homem com um coração enorme.
Um coração onde abriga toda a Humanidade.
Os que o amam. Os que o odeiam. A todos acolhe e perdoa.
Falar de Nelson Mandela, é hoje angustiante, dado o seu débil estado de saúde. Já rios de tinta, de debates, de vídeos, vão correndo pelo mundo fora, celebrando a vida e a obra deste Homem único com o qual temos o privilégio de partilhar vários anos e episódios significativos e transcendentes, que mudaram uma nação e um mundo.
Um deles tem a ver com esse desporto de eleição que é o Rugby. A África do Sul ia organizar o Campeonato do Mundo de 1995. Nelson Mandela tinha sido eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, e elementos mais radicais queriam alterar os símbolos da equipa de rugby (conhecida por "Springboks"), ou mesmo extingui-la, já que este desporto estava muito associado ao apartheid.
Nas vésperas do Mundial, foi a decisiva e firme intervenção pessoal de Mandela que o evitou.
Num país que sarava as feridas da discriminação e do ódio, Madiba (o nome pelo qual Mandela é carinhosamente conhecido - nome em dialecto xhosa da sua tribo originária-) percebeu o alcance que o Mundial poderia ter na união de todo um povo.
Desde o início que acompanhou com interesse a preparação da equipa, visitou os jogadores no estágio (tratando-os um a um pelo nome) e estabeleceu uma sólida relação de amizade com o grande capitão da equipa, o branco François Pienaar (leia-se a autobiografia deste, "Rainbow Warrior", da Waterstones). A amizade estendeu-se para fora dos relvados, uma vez que Mandela é o padrinho do filho mais velho de François.
Motivados, os jogadores sul-africanos fizeram milagres. Contra todas as expectativas, os 9ºs. classificados do ranking mundial iam disputar a final contra a super-favorita Nova Zelândia.
Mandela assistiu à final, vestido com as cores dos Springboks, e o símbolo dos mesmos (uma gazela precisamente conhecida como springbok) junto ao coração, recebendo uma longa e calorosa ovação de todos ( a grande maioria brancos!) e gritos de "Nelson, Nelson"!
E quando Joel Stransky pontapeia o drop final, já em prolongamento, é o delírio!
A África do Sul vencera a Nova Zelândia por 15-12 e era Campeã do Mundo!
Quando o presidente negro Nelson Mandela entrega a taça ao capitão branco François Pienaar, não é o estádio de Ellis Park, em Joanesburgo, que une 65.000 sul-africanos. É toda uma nação que se une. É todo um povo. São todas as raças. É a Nação do Arco-Íris. Madiba construíra um país novo.
Mandela e o Rugby tinham unido uma nação, um continente, um mundo.
O "Mundial de Mandela" mudou, também, e definitivamente a história do rugby. O Mundial, de prova quase envergonhada, transformou-se no terceiro espectáculo desportivo mais visto (só suplantado pelos Jogos Olímpicos e Mundiais de futebol), e o Rugby profissionalizou-se e implantou-se a nível planetário. Até entre nós.
Um coração onde abriga toda a Humanidade.
Os que o amam. Os que o odeiam. A todos acolhe e perdoa.
Falar de Nelson Mandela, é hoje angustiante, dado o seu débil estado de saúde. Já rios de tinta, de debates, de vídeos, vão correndo pelo mundo fora, celebrando a vida e a obra deste Homem único com o qual temos o privilégio de partilhar vários anos e episódios significativos e transcendentes, que mudaram uma nação e um mundo.
Um deles tem a ver com esse desporto de eleição que é o Rugby. A África do Sul ia organizar o Campeonato do Mundo de 1995. Nelson Mandela tinha sido eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, e elementos mais radicais queriam alterar os símbolos da equipa de rugby (conhecida por "Springboks"), ou mesmo extingui-la, já que este desporto estava muito associado ao apartheid.
Nas vésperas do Mundial, foi a decisiva e firme intervenção pessoal de Mandela que o evitou.
Num país que sarava as feridas da discriminação e do ódio, Madiba (o nome pelo qual Mandela é carinhosamente conhecido - nome em dialecto xhosa da sua tribo originária-) percebeu o alcance que o Mundial poderia ter na união de todo um povo.
Desde o início que acompanhou com interesse a preparação da equipa, visitou os jogadores no estágio (tratando-os um a um pelo nome) e estabeleceu uma sólida relação de amizade com o grande capitão da equipa, o branco François Pienaar (leia-se a autobiografia deste, "Rainbow Warrior", da Waterstones). A amizade estendeu-se para fora dos relvados, uma vez que Mandela é o padrinho do filho mais velho de François.
Motivados, os jogadores sul-africanos fizeram milagres. Contra todas as expectativas, os 9ºs. classificados do ranking mundial iam disputar a final contra a super-favorita Nova Zelândia.
Mandela assistiu à final, vestido com as cores dos Springboks, e o símbolo dos mesmos (uma gazela precisamente conhecida como springbok) junto ao coração, recebendo uma longa e calorosa ovação de todos ( a grande maioria brancos!) e gritos de "Nelson, Nelson"!
E quando Joel Stransky pontapeia o drop final, já em prolongamento, é o delírio!
A África do Sul vencera a Nova Zelândia por 15-12 e era Campeã do Mundo!
Quando o presidente negro Nelson Mandela entrega a taça ao capitão branco François Pienaar, não é o estádio de Ellis Park, em Joanesburgo, que une 65.000 sul-africanos. É toda uma nação que se une. É todo um povo. São todas as raças. É a Nação do Arco-Íris. Madiba construíra um país novo.
Mandela e o Rugby tinham unido uma nação, um continente, um mundo.
O "Mundial de Mandela" mudou, também, e definitivamente a história do rugby. O Mundial, de prova quase envergonhada, transformou-se no terceiro espectáculo desportivo mais visto (só suplantado pelos Jogos Olímpicos e Mundiais de futebol), e o Rugby profissionalizou-se e implantou-se a nível planetário. Até entre nós.
Quem queira recordar estes momentos especiais, veja, ou reveja o belíssimo filme de Clint Eastwood "Invictus", de 2009, com Morgan Freeman (Mandela) e Matt Damon (Pienaar), baseado no livro de John Carlin "Playing The Enemy : Nelson Mandela and the game that made a Nation".
"Invictus" é também o título de um poema, que acompanhou Nelson Mandela durante os 27 infames anos de cativeiro, particularmente no inferno de Robben Island.
"Invictus" é também o título de um poema, que acompanhou Nelson Mandela durante os 27 infames anos de cativeiro, particularmente no inferno de Robben Island.
"Invictus
Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
(William Ernest Henley)
A dimensão humana de Mandela é perfeitamente entendida quando se lê o seu espantoso e comovente discurso de tomada de posse como Presidente da República da África do Sul:
Nelson Mandela, Pretória, 10 de Maio de 1994, "Chegou o momento de
construir".
" Hoje, através da nossa
presença aqui e das celebrações que têm lugar noutras partes do nosso país e do
mundo, conferimos glória e esperança à liberdade recém-conquistada.
Da experiência de um extraordinário desastre
humano que durou demais, deve nascer uma sociedade da qual toda a humanidade se
orgulhará.
Os nossos comportamentos diários como
sul-africanos comuns devem dar azo a uma realidade sul-africana que reforce a
crença da humanidade na justiça, fortaleça a sua confiança na nobreza da alma
humana e alente as nossas esperanças de uma vida gloriosa para todos.
Devemos tudo isto a nós próprios e aos povos do
mundo, hoje aqui tão bem representados.
Sem a menor hesitação, digo aos meus compatriotas
que cada um de nós está tão intimamente enraizado no solo deste belo país como
estão as célebres jacarandás de Pretória e as mimosas do bushveld.
De cada vez que tocamos no solo desta terra,
experimentamos uma sensação de renovação pessoal. O clima da nação muda com as
estações.
Uma sensação de alegria e euforia comove-nos
quando a erva se torna verde e as flores desabrocham.
Esta união espiritual e física que partilhamos
com esta pátria comum explica a profunda dor que trazíamos no nosso coração
quando víamos o nosso país despedaçar-se num terrível conflito, quando o víamos
desprezado, proscrito e isolado pelos povos do mundo, precisamente por se ter
tornado a sede universal da perniciosa ideologia e prática do racismo e da
opressão racial.
Nós, o povo sul-africano, sentimo-nos realizados
pelo facto de a humanidade nos ter de novo acolhido no seu seio; por nós,
proscritos até há pouco tempo, termos recebido hoje o privilégio de acolhermos
as nações do mundo no nosso próprio território.
Agradecemos a todos os nossos distintos
convidados internacionais por terem vindo tomar posse, juntamente com o nosso
povo, daquilo que é, afinal, uma vitória comum pela justiça, pela paz e pela
dignidade humana.
Acreditamos que continuarão a apoiar-nos à medida
que enfrentarmos os desafios da construção da paz, da prosperidade, da
democracia e da erradicação do sexismo e do racismo.
Apreciamos sinceramente o papel desempenhado
pelas massas do nosso povo e pelos líderes das suas organizações democráticas
políticas, religiosas, femininas, de juventude, profissionais, tradicionais e
outras para conseguir este desenlace. O meu segundo vice-presidente o distinto
F.W. de Klerk, é um dos mais eminentes.
Também gostaríamos de prestar homenagem às nossas
forças de segurança, a todas as suas patentes, pelo destacado papel que
desempenharam para garantir as nossas primeiras eleições democráticas e a
transição para a democracia, protegendo-nos das forças sanguinárias que ainda
se recusam a ver a luz.
Chegou o momento de sarar as feridas.
Chegou o momento de transpor os abismos que nos
dividem.
Chegou o momento de construir.
Conseguimos finalmente a nossa emancipação
política. Comprometemo-nos a libertar todo o nosso povo do continuado cativeiro
da pobreza, das privações, do sofrimento, da discriminação sexual e de
quaisquer outras.
Conseguimos dar os últimos passos em direcção à
liberdade em condições de paz relativa. Comprometemo-nos a construir uma paz
completa, justa e duradoura.
Triunfámos no nosso intento de implantar a
esperança no coração de milhões de compatriotas. Assumimos o compromisso de
construir uma sociedade na qual todos os sul-africanos, quer sejam negros ou
brancos, possam caminhar de cabeça erguida, sem receios no coração, certos do
seu inalienável direito a dignidade humana: uma nação arco-íris, em paz consigo
própria e com o mundo.
Como símbolo do seu compromisso de renovar o nosso
país, o novo governo provisório de Unidade Nacional abordará, com maior
urgência, a questão da amnistia para várias categorias de pessoas que se
encontram actualmente a cumprir penas de prisão.
Dedicamos o dia de hoje a todos os heróis e
heroínas deste país e do resto do mundo que se sacrificaram de diversas formas
e deram as suas vidas para que nós pudéssemos ser livres.
Os seus sonhos tornaram-se realidade. A sua
recompensa é a liberdade.
Sinto-me simultaneamente humilde e elevado pela
honra e privilégio que o povo da África do Sul me conferiu ao eleger-me
primeiro Presidente de um governo unido, democrático, não racista e não
sexista.
Mesmo assim, temos consciência de que o caminho
para a liberdade não é fácil.
Sabemos muito bem que nenhum de nós pode ser
bem-sucedido agindo sozinho.
Por conseguinte, temos que agir em conjunto, como
um povo unido, pela reconciliação nacional, pela construção da nação, pelo
nascimento de um novo mundo.
Que haja justiça para todos.
Que haja pás para todos.
Que haja trabalho, pão, água e sal para todos.
Que cada um de nós saiba que o seu corpo, a sua
mente e a sua alma foram libertados para se realizarem.
Nunca, nunca e nunca mais voltará esta
maravilhosa terra a experimentar a opressão de uns sobre os outros, nem a sofrer
a humilhação de ser a escória do mundo.
Que reine a liberdade.
O sol nunca se porá sobre um tão glorioso feito
humano.
Que Deus abençoe África!"
"Que Deus Abençoe África" é o hino nacional da nova África do Sul plurirracial: "N´kosi sikekeli Afrika".
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